Exercitamos nossa capacidade de sonhar com o futuro da humanidade. Queremos o direito de nascer e viver em harmonia. Simples, delicado e complexo como a natureza humana. Como a própria vida, a capacidade de amar é um mistério que a ciência vem tentando explicar. Ser gerado, gestado, nascido e crescido em ambiente amoroso são fundamentos para uma vida em amor.
Até agora, os desastres têm sido os fatores mais efetivos para conscientização. Os seres humanos tentaram bancar Deus durante o século XX para depois se darem conta das consequências de não pensar nos efeitos a longo prazo. Tivemos que esperar até o começo de um novo milênio para testemunhar grandes reações populares quando as catástrofes da natureza se tornaram cada vez mais comuns.
Durante milênios a estratégia básica para sobrevivência da maioria dos humanos tem sido a de dominar a natureza e dominar outros grupos de humanos. Existiu, portanto, uma vantagem evolutiva no desenvolvimento do potencial humano para agressão, no lugar da capacidade de amar. Houve uma vantagem evolutiva em perturbar o nascimento e o primeiro contato entre mãe e bebê.
No contexto científico atual, estamos numa posição que permite prever as consequências do parto industrializado. Estudos com animais, que vivem de maneira instintiva, mostram de forma mais clara a influência de intervenções durante o parto. Descobriu-se, por exemplo, que quando as ovelhas parem com anestesia peridural, elas não cuidam dos seus filhotes. Já um estudo com ratas mostrou que as ratas virgens se comportaram exatamente como mães após terem recebido uma injeção do sangue de ratas que tinham acabado de parir. Isso porque, logo após o parto, existem no sangue hormônios capazes de induzir ao amor materno.
Pela primeira vez na história da humanidade, grande parte das mulheres dá à luz sem liberar o fluxo de hormônios do amor. Existem centenas de estudos que tratam de consequências a longo prazo do que acontece no “período primal” de vida, que inclui a vida do feto, perído perinatal e o ano após o nascimento.
Alguns estudos indicam que a poluição intra-uterina com produtos químicos tem consequências múltiplas a longo prazo. Eles detectam vínculos entre um estado de saúde e o que aconteceu enquanto o bebê ainda estava dentro do útero.
Foi desenvolvido um estudo com crianças que haviam perdido o pai antes de nascer e no primeiro ano de vida. Todas foram criadas sem pai e psicólogos as acompanharam por 35 anos, constatando que apenas aquelas que haviam perdido o pai enquanto estavam dentro do útero encontravam-se sob maior risco de criminalidade, alcoolismo e doenças mentais. Um outro estudo da Suécia mostrou que o grau de sociabilidade era mais baixo dos filhos de mães que haviam solicitado um aborto sem êxito.
Quando os pesquisadores exploram o histórico das pessoas que expressaram algum tipo de capacidade deficiente de amar – a si próprio e/ou aos outros – geralmente encontram fatores de risco no parto. Sugere-se que o que aconteceu durante a gestação tem relação com o momento de dar à luz. Se um bebê é fragilizado antes de nascer com os hormônios de estresse liberados pela mãe, é provável que o risco de sofrimento fetal durante o trabalho de parto aumente.
A atual falta de interesse nas consequências a longo prazo da utilização massiva de técnicas leva a perguntas inevitáveis sobre o nascimento do ser humano. O alto nível de intervenções, como indução e condução do parto, a cesariana, a anestesia peridural, a expulsão da placenta induzida por drogas, não são apenas efeitos de uma grande incompreensão da fisiologia do parto. São também ilustrações perfeitas da miopia do homem tecnológico.
Hoje temos evidências da importância de perturbar o mínimo possível o processo de parto e o primeiro contato entre mãe e bebê. Precisamos redescobrir as necessidades das parturientes, precisamos construir um modelo de atenção ao nascimento que respeite a fisiologia e a beleza que é o nascimento de uma nova vida.
Como diz Deepak Chopra “Uma nova vida é uma nova fonte de esperança, uma possibilidade no caminho da humanidade”.
Artigo baseado no livro “O Camponês e a Parteira” (The farmer and the obstetrician), de Michel Odent de 2002.
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