domingo, 21 de novembro de 2010

o não não pode ser um futuro sim


Uma das tarefas mais difíceis na educação das crianças é saber a hora certa de dizer 'não'. A exposição exaustiva a brinquedos diferentes e novidades tecnológicas das mais diversas, muitas vezes, antecipa desejos e complica ainda mais a tarefa de fazer os pequenos entenderem certos limites.

De acordo com Leila Salomão Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), não existe uma regra geral para a liberdade das crianças. “Cada família deve levar em conta seus costumes e a confiança que tem em seu filho para saber a hora certa de atender ou não a um pedido”, diz.

Para Leila, no entanto, essa confiança deve ser construída. “A família e a escola têm um papel fundamental na hora de ensinar alguns valores às crianças, sobre o que é realmente importante. Pais sempre por perto, que mostrem com exemplos e atitudes o que é certo permitem a construção de um comportamento mais maduro”, diz.

Segundo a psicóloga Patrícia Spada, doutora e pesquisadora da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os filhos estão em seu papel, por exemplo, de fazerem pedidos descabidos aos pais, como um computador, aos 6 anos, que fique somente em seu quarto e ao qual só eles tenham acesso. “Crianças, literalmente, pedem limites, pois por meio destes sentem-se amados, considerados, vistos e reconhecidos. Uma das maneiras que encontram para pedir limites é testando os pais”, afirma.

Atenção necessária

A professora e psicopedagoga Rosângela Delmando Miranda, de 38 anos, é mãe de Bianca, 11 anos, e Bruno, 7 anos. Segundo ela, deixar a filha mais velha dormir fora de casa pela primeira vez, aos 10 anos, não foi fácil. “A gente fica um pouco insegura, mas basta conhecer a família dos amigos e quem são os amigos”, diz.

Para Rosângela, é fundamental mostrar a realidade para os filhos para que eles não exagerem na hora dos pedidos. “Dou mesada para os dois como uma forma de fazê-los entender o valor do dinheiro. Está funcionando, porque quando eles querem muito alguma coisa juntam as economias e conseguem o que queriam. É importante para que eles saibam que tudo o que é muito fácil não tem valor”, afirma a professora.

Por sua experiência de convivência diária com crianças, Rosângela afirma que elas precisam de limites. “Percebo que a maior parte das mães deixa as crianças com a empregada porque tem que trabalhar e acaba não dando a atenção necessária. Essa liberdade excessiva, não se importar também é prejudicial, já que as crianças precisam de alguém que demonstre cuidado”, diz.

Idade escolar

Segundo Leila, crianças em idade escolar passam a ter uma autonomia natural. Para os pais, essa é uma boa hora para entender o processo de crescimento dos filhos. “É preciso que o pai deixe o filho um pouco livre para que ele aprenda a se defender. É claro que é importante estar por perto e fazer-se presente e preocupado, mas os pais têm que acompanhar a pauta de crescimento dos filhos para que ele não fique infantilizado”, diz.

Leila acredita que seja importante equilibrar os desejos dos filhos com aquilo que é cabível permitir. “Não se pode deixar uma criança escolher se quer ou não estudar, ou se quer ou não fazer a lição de casa, mas ela pode escolher o esporte que vai praticar, por exemplo. Por isso, volto a chamar a atenção para a necessidade de acompanhar o crescimento dos filhos de perto e fazê-los entender que cada escolha tem uma hora certa”, afirma.

Já para Patrícia, uma das formas mais eficazes de dosar essa liberdade é atender às solicitações da criança na medida em que ela mostre que é responsável e sabe se colocar bem nas situações. "Assim, ela mesma vai se sentindo mais capacitada a enfrentar as dificuldades e criar soluções próprias para seus problemas”, afirma.

0 comentários:

Postar um comentário