O pesquisador da Unesp de Botucatu, Ricardo Torresan lembra que o uso de drogas durante a gestação pode provocar o nascimento prematuro. “Depende da duração da exposição á droga. As usuárias crônicas apresentam a rotura da placenta e o nascimento é precoce. Dentre as usuárias há mais partos prematuros e riscos de morte fetal.”
Segundo a neonatologista da Unesp de Botucatu Saskia Fekete, esses bebês exigem cuidados especiais. “São crianças que precisam de mais dias de UTI. Exigem mais cuidados. Pelo próprio uso da droga pode dar algumas complicações no bebê.”
A obstetra e professora da Unesp/Botucatu, Vera Borges enfatiza que a mudança de comportamento provocada pela droga é um dos itens que afugenta as mulheres do pré- natal, inclusive nas unidades básicas de saúde. “Elas têm menos adesão ao pré-natal , tanto aqui no hospital escola como nas unidades básicas de saúde. São as que mais faltam nas consultas. Algumas nem procuram as unidades para o pré-natal.”
O medo de perder a guarda do filho e das complicações legais somado ao preconceito também contribuem para o afastamento dessa mulher do acompanhamento durante a gestação, enfatiza a pesquisadora. “No próprio serviço de saúde essas mulheres sofrem preconceito. Elas temem confessar que são usuárias de drogas. São pacientes estigmatizadas. Elas se afastam dos cuidados médicos.”
Para a médica não é possível afirmar com 100% de certeza que os bebês vão nascer com sequelas. “Depende de uma série de fatores. Da quantidade de droga consumida, da época do uso , qual droga foi usada, da genética da mãe, da sensibilidade dessa criança que está sendo gerada, da genética da criança. É como preparar uma sopa, não basta todos os ingredientes. Não dá para afirmar que se a mãe é usuária de droga o bebê vai nascer com problemas. Pode se afirmar que é grande o número de crianças com problemas que têm mães usuárias de drogas.”
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Em apenas 4 minutos,
crack chega aos fetos
Estudos comprovam que a droga ingerida pela grávida atinge o feto em quatro minutos, explica a neonatologista Saskia Fekete. “As pesquisas mostram que demora em torno de quatro minutos para que o feto receba o mesmo nível de droga que a mãe está ingerindo. Há de se ressaltar que o feto é um organismo imaturo e isso pode causar inúmeros problemas. Muitas vezes fica difícil separar o que é efeito da droga na vida intrauterina com os cuidados que essa criança vai ter no pós-natal. A gente não sabe o que vem do ambiente e o vem diretamente da droga.”
Os efeitos da droga podem ser traduzido em malformações, diz a pesquisadora. “Os mais frequentes atingem o sistema nervoso central, provocam hidrocefalia, problemas renais, cardíaco e, por exemplo. Alguns fetos não desenvolvem o cérebro que está em formação e nascem com a cabeça menor. Outros passam a sofrer convulsões porque o cérebro não se formou adequadamente. A grande maioria das malformações não são visíveis a olho nu.”
Os problemas mais frequentes são crianças com atrasos de desenvolvimento neurológico, crianças especiais que vão exigir tratamento especial sendo que a sociedade não está preparada para atender. “Ela mal consegue lidar com os normais. Vai ser difícil atender essa população.”
A malformação é difícil de reconhecer, enfatiza Fekete. “A ação do crack não vai dar uma malformação típica. Se a mãe não fala que está se drogando, só olhando a criança é difícil reconhecer . Com o álcool mesmo a mãe não falando, só olhando a criança é possível saber porque tem a síndrome alcoólica fetal que apresenta alterações típicas. No crack não. Sabe que pode acontecer N coisas, mas não tem nada típico.”
O crack traz implicações para a mãe e para a criança. Seja no período de gestação, seja no pós parto. As principais complicações ficam concentradas no desenvolvimento mental desse bebê. O uso crônico pode provocar alterações na estrutura do cérebro dessa criança. Alguns estudos têm mostrado que a cocaína no período pré-natal produz alterações bioquímicas e estruturais no cérebro do feto e o crack é um subproduto dessa droga.”
A taquicardia fetal , uma esquemia no cérebro causada pela pouca irrigação do sangue também é possível acontecer.
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Grupo quer abraçar as parturientes
A obstetra Vera Borges é a favor de um tratamento mais avançado, especializado, para atender as mulheres usuárias de drogas. “Estamos montando um grupo de multiprofissionais para um atendimento específico, uma vez que os casos estão cada vez mais presentes. A universidade tem que ter um tratamento mais avançado.” Ela acha que os casos precisam ser identificados. Através de observação, os profissionais têm percebido que das 150 novas gestantes a cada mês na faculdade, duas são usuárias de droga.
Um dos principais objetivos do trabalho é fazer com que a usuária diminua o uso durante a gestação e consequentemente cause menos danos ao feto. “Vamos envolver a família. Queremos que essa mulher tenha a oportunidade de deixar o vício e não perder a guarda do filho. A gravidez é um momento que mobiliza essa mulher a se tratar, por isso o serviço mais amplo.”
A obstetra frisa que quando o trabalho é feito com grupos mais homogêneos, os resultados são melhores porque há uma proximidade maior com as necessidades desse grupo. “São profissionais de psiquiatria, psicologia, assistência social, obstetrícia, neonatologia e pediatria. Vamos abraçar essa mulher para tentar fazer com que ela reconstrua sua vida.”
A neonatologista, Saskia Fekete ressalta que o grupo vai acompanhar e ver quais são as alterações mais frequentes. O crack foi bem estudado. A gente ainda não está acompanhando essas crianças. Em outros lugares do mundo já tem muitos estudos que acompanham crianças filhos de mães usuárias.”
Para o psiquiatra, Ricardo Torresan a intenção também é produzir conhecimento. “Temos que olhar com outros olhos. Queremos acompanhar esses casos, essas crianças. Fazer um levantamento em nosso ambulatório.”
A literatura, segundo a obstetra, descreve que o trabalho com uma equipe multiprofissional, melhora o resultado junto aos usuários porque eles diminuem o uso, não só durante a gestação mas quando nasce o bebê.
“Nossa idéia inicial é começar com as pacientes que são atendidas aqui. A gente quer abranger Botucatu e ser uma referência para toda a região de atendimento de pacientes usuárias de drogas. A previsão é que os serviços comecem a funcionar no começo de maior.”
domingo, 17 de abril de 2011
gestação e uso do craque
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1 comentários:
olha, sei q ñ devemos julgar, mas uma pessoa grávida q usa drogas pode ser chamada de "mãe"?
ñ concordo...
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